“Quando
atiramos uma pedra ao lago uma onda se espalha em todas as direções, assim como
a pedra são nossas ações no atual sistema público de educação, elas provocam
uma onda que dará conta de destruir nossas possibilidades de futuro e de apagar
os rastros de nosso passado”. (Jonatan Tostes)
O Manifesto revolucionário da escola
pública
Atualmente o
órgão responsável pela educação e instrução das pessoas de nosso mundo é a
escola, uma instituição montada ha muito tempo atrás para atender as demandas
econômicas e culturais mundiais, mas a realidade de nosso mundo é
constantemente alterada e os produtores deste aparelho ideológico se esqueceram
de modifica-lo com o tempo, agora ele se tornou um agente contrario a seu
proposito inicial.
A palavra
“Escola” tem origem grega, ela deriva da palavra “Skole” que significa “lazer”,
para os gregos o tempo ocioso devia ser dedicado ao estudo e por este motivo
suas horas de lazer eram seu momento escolar, onde tinham o prazer de aprender.
No entanto para nossa sociedade isso já não faz mais nenhum sentido, a escola
atualmente é um local de regras e de disciplina e poucos são aqueles que sentem
prazer em assistir aulas ou encaram essa atividade como um momento de lazer,
entre os jovens a frase interrogativa “Quem inventou a escola?” é
constantemente usada de forma pejorativa para manifestar seu ódio pelo ambiente
escolar.
Esse ódio pela
atual escola é algo curioso, mas que pode ser explicado pelas modificações que
ela sofreu na idade contemporânea, a escola de hoje difere completamente da do
mundo grego ou medieval devido a se modificar conforme as necessidades
históricas e econômicas de nosso mundo. No decorrer do século XIX uma nova
classe social necessitava se firmar no poder e para fazer isto ela precisava
que a população tivesse o mínimo de instrução, a burguesia uma classe social
que ascendeu através do comercio e que se perpetuou no poder através da posse
dos meios de produção precisou eliminar a monarquia que se mantinha no poder
devido a linhagens sanguíneas e antigas conquistas, para isso ela se uniu com o
povo e demostrou que o mundo deveria ser livre e que cada homem devia ter o
direito de governar.
Neste momento
a burguesia utilizou a escola para instruir um grande numero de pessoas que
auxiliariam a compor este novo mundo que estava surgindo, elas precisariam
votar e exercer minimamente um papel como cidadão. Para tanto foi necessário
algumas mudanças na escola, o mundo havia mudado devido a intensificação da
produção de maquinas e com o aumento das indústrias logo era preciso de
trabalhadores disciplinados e prontos para consumir os novos produtos, a escola
foi então escolhida para ser o local de formação desse novo tipo de pessoas.
Toda a
estrutura da escola foi planejada para atender então a essa nova realidade, as
salas deveriam ser retangulares e as cadeiras enfileiradas para que se tornasse
semelhante a uma linha de produção fabril onde cada “operário” realiza seu
trabalho individualmente, mas age coletivamente seguindo ordens. O professor
devia ficar acima de todos e em pé assim como o encarregado age na empresa e
dele é que brota toda a razão e verdade e por este motivo suas ordens devem ser
seguidas sem questionamento caso o contrario o aluno será punido. Não é por
menos que a palavra Professor, vem do verbo professar que significa falar a
verdade e a palavra aluno vem do latim onde “a” é um prefixo de negação e
“lunos” que dizer luz, logo o aluno é um ser sem luz, sem conhecimento, sem
razão e o professor é que possui esses atributos e por isso dá as ordens, essa
visão hierárquica facilita a aceitação do mundo de regra que estes alunos
enfrentarão quando saírem da escola. Dessa forma a escola foi um aparelho
ideológico utilizado pelo Estado e pela burguesia para poder controlar as
pessoas e reproduzir o cenário de uma fabrica, haja vista que até o sinal é
idêntico, o objetivo da escola pública é dar aos alunos o mínimo de
conhecimento que necessitariam para manter o mundo de forma organizada.
No entanto da
mesma forma que a escola foi transformada pelos detentores do capital pode vir
a ser transformada por outro grupo de pessoas para atender a uma demanda
diferente, o que de certa forma está acontecendo. Atualmente a escola perdeu
muitas de suas características, os jovens com o passar do tempo começaram a descobrir
que está instituição não serve mais para lhes propor uma ascendência social e
por este motivo começam a destruí-la mesmo que de forma não consciente. A
escola pública do século XXI devido a falta de investimentos econômicos e
intelectuais perdeu sua capacidade educadora e isto a cada dia se torna mais
perceptível pela população.
Uma grande
inversão de valores ocorreu no mundo escolar com a intensificação da mídia, os
meios de comunicação forneceram aos alunos a possibilidade de obter facilmente
informações e elas acabaram por deturbar o conhecimento ao invés de auxilia-lo
devido a falta de preparo para lhe dar com as novas tecnologias. O professor
desde o mundo antigo até meados do contemporâneo exercia um papel de grande
valor na sociedade devido ser o detentor do conhecimento, isso ocorria porque
os livros eram algo extremamente raros e a instrução para poder lê-los era algo
valioso. Antes da invenção da imprensa
possuir um livro era como possuir um carro de luxo hoje, poucos eram capazes
disto, logo o professor era a pessoa que detinha esse recurso e apenas por ele
que o aluno obtinha conhecimento.
Mas com o
passar do tempo o mundo foi se modificando e os livros se tornaram algo comum e
por este motivo o conhecimento se tornou também algo de fácil acesso, com a
invenção da televisão e da internet o mundo passou a ter um canal aberto com o
conhecimento que antes era transmitido apenas pelo professor. No entanto os
alunos não perceberam que o acesso ao conhecimento não significa o aprendizado,
logo os estudantes iniciaram um processo de desvalorização do conhecimento e
valorização a informação, ou seja, o conhecimento a ser obtido nas aulas
começou a ser desprezado pelos alunos a medida que este não se enquadrava na
realidade dos alunos e poderia ser facilmente visto pela mídia, mas os alunos
não se atentaram que a informação é um dado morto nas mãos daquele que não tem
conhecimento para opera-la, logo perderam então a razão do aprender.
Este processo
deveria ter sido positivo se as aulas que antes eram expositivas fossem
alteradas por aulas mais criativas que entendessem que o aluno possui acesso a
informação e agora então era necessário trabalhar o conhecimento através de
dinâmicas e recursos adequados, mas a falta de investimento na formação dos docentes
e na estrutura da sala de aula impossibilitaram que isso ocorresse e permitiram
que o aluno perdesse o interesse pela educação. Quando observamos uma sala de
aula percebemos que ela é idêntica a uma sala de 50 ou 100 anos atrás, devido a
falta de preocupação do Estado para com essa instituição, tente observar uma
sala de um médico e você percebera que ela difere muito de uma do século
passado. Outro problema é a progressão continuada que por ter sido aplicada
incorretamente criou um censo de não reprovação ao aluno e uma certa
prepotência deste para com o professor que não poderia mais reprova-lo, logo uma
sala lotada e com faixas de aprendizagem diversas é com alunos cientes de uma
não reprovação é um ambiente de trabalho muito difícil para um profissional
desmotivado e mal pago.
Grande parte
das escolas sofrem com problemas gravíssimos e como não possuem formas de
resolvê-los optam por soluções nada inteligentes. Na escola pública é comum
observar alunos realizando uma atividade medieval, diversos jovens passam cerca
de quatro horas de seus dias transcrevendo paginas de um livro ou de um quadro
negro em seu caderno de uso pessoal, essa atividade era realizada por monges
copistas antes da invenção da imprensa, pois a única forma de obterem livros
era copiando as palavras do original.
Mas nosso mundo não necessita mais desse
método devido à facilidade de impressão de livros, no entanto todos os dias
crianças copiam textos para passar o tempo ou praticar a caligrafia, algo que
também está sendo substituído pela digitação. Isso ocorre porque o nível de
alfabetização dos alunos é muito baixo e como as salas não possuem recursos e
estão superlotadas a forma mais hábil de se comunicar com todos sem que haja
desordem e bagunça e fazendo com que os alunos escrevam o conteúdo que deveriam
estar aprendendo e debatendo, uma atitude nada inteligente tendo em vista que
grande parte deles não sabem nem mesmo o que estão a copiar.
No entanto a ausência de questionamentos, que
é um atributo favorável para a burguesia e o Estado, compactuam com este tipo
de ação e todos os dias ela continua a ser realizada nas escolas, mas alguns
alunos as vezes se recusam a fazer o pedido, muitas vezes por que simplesmente
não querem, mas lá no fundo começam a identificar que algo está errado, pois o
próprio professor que busca dia a dia trabalhar a criticidade do aluno tem
ciência que aquela atividade não esta adequada, porem continua a realiza-la
pela falta de opção.
O aluno é uma
vitima desse processo assim como o professor, porem o segundo tem mais
possibilidades de atuar do que o primeiro, o que ocorre é que nossa sociedade
buscou formas de trabalhar a liberdade e os diretos da criança e fugir da
repressão, mas a ausência de uma base educacional causada pela desestruturação
familiar e as questões socioeconômicas fizeram com que a liberdade dos alunos
se tornasse libertinagem. Nos tempos antigos o professor era uma figura de
respeito que muitas vezes era imposto pelo medo, esse quadro era negativo a
medida que formava cidadãos pouco críticos, mas na tentativa de politizar os
alunos e mostrar a eles como desfazer uma visão hierárquica do mundo a educação
deu espaço para que a diminuição da disciplina fosse corrompida e gerasse uma
bagunça generalizada e desrespeito para com os docentes, que não são mais
aqueles que professam e sim mediadores de uma linguagem cientifica para uma
vulgar, isso ocorreu porque a falta de investimentos na educação impediu que o
professor desse continuidade ao processo, logo os questionamentos se tornaram
uma forma de destruir um sistema falido de educação e como não dispomos de uma
estrutura para fazer um melhor as gerações que foram chegando passaram não mais
a questiona-lo e sim a inconscientemente tentar destruí-lo. Logo em muitas
escolas a falta de educação e estrutura impossibilitam que as aulas tenham um
verdadeiro efeito, os professores não conseguem lhe dar com uma gigantesca
massa de alunos dispondo apenas de giz e lousa e passam a apenas tentar
controla-los dentro da sala se tornando um mediador de conflitos sem recursos
para isso e por este motivo rapidamente se sente desmotivado e procura desistir
da profissão que não mais é vista pela sociedade como aquela que detem o
conhecimento, mas como aquela que cuida daqueles que deveriam obtê-lo.
È claro que a
escola a nível nacional possui realidades diferentes e que algumas conseguiram
se adaptar aos novos padrões mundiais com mais eficiência que outras, mas se
avaliarmos a rede pública de ensino como um todo a situação descrita é uma
realidade para maior parte delas. Este quadro tende a se agravar a medida que a
cada ano o número de profissionais ligados a educação é reduzido, em uma turma
de História por exemplo as aulas são iniciadas apenas com uma faixa que vai de 30
á 40 alunos e destes cerca de 15 á 10 chegam ao final do curso e apenas deles 5 entram no mercado de trabalho como
professor, pois os demais optam por outras profissões devido a desorganização e
desvalorização da escola pública. Inversamente aos que entram o número de
profissionais saindo da escola pública é gigantesco e grande parte deles saem
do cargo por problemas de saúde, um dado que é visível e lógico e aponta um
colapso do sistema educacional público.
Com todo este
descaso e as alterações no perfil da escola os alunos passaram ver o espaço
escolar como uma prisão desnecessária, um espaço que roubaria anos de suas
vidas com coisas inúteis e comuns e que iria oprimi-lo através de regras, isso
desconstrue totalmente a ideia escolar dos gregos. Se perguntarmos em uma sala
de aula quantos querem ser professor é provável que não obtenha nenhuma
resposta positiva e que caso haja alguma o próprio professor desencoraja o
aluno a fazê-lo, pois o mesmo sabe que o Estado e a Burguesia não permitiram
que está profissão faça seu trabalho corretamente e em boas condições.
Com isto os profissionais da educação que são
responsáveis por organiza-la e faze-la funcionar corretamente não possuem
capacidade e condições para faze-lo, muitos dos coordenadores e responsáveis
pelo sistema de ensino ocupam a função apenas pelo fato de serem professores
antigos e não mais conseguirem ficar na sala de aula devido a desorganização da
mesma, mas não estão devidamente qualificados para tratar da questão e
desconhecem as novas tecnologias e métodos educacionais, tudo isso forma um
quadro cada vez mais complexo que contribui para que a escola não funcione
corretamente
O Estado assim
como a escola pública foram feitos para não funcionar corretamente, o estado
deveria ser um órgão que suprisse as necessidades do povo até o momento que
este não precisasse mais de um intermédio e pudesse se auto gerir, caso o
estado trabalhasse corretamente ele caminharia para sua própria extinção. A
escola foi a principio criada para instruir e educar a população e sabemos que
uma população politizada não permitiria que um mundo desigual como o nosso
existisse, logo se a escola fizer corretamente seu papel ela destruirá a
burguesia e eles não permitirão que isso ocorra, por este motivo ela deve apenas
existir operando com as mínimas condições. No entanto da mesma forma que a
burguesia utilizou a escola para eliminar a monarquia, nossa sociedade pode
faze-lo, mas infelizmente o único sistema que pode ser gerado de imediato pela classe oprimida devido a ausência de
educação que possuímos é a barbárie,
por este motivo precisamos resgatar os valores da escola antes de iniciar um
processo revolucionários, caso contrario ela será responsável por produzir um
colapso geral de nossa sociedade.
Desde os
tempos mais remotos de nossa História o ser humano se apropria do conhecimento
para dominar aquilo que o cerca, seja a natureza esse gigante que o desafia ou
até mesmo outro ser humano. È interessante notar que a constante luta de nossa
espécie é causa pela vontade de buscar algo melhor e quando ela alcança este
objetivo instantaneamente cria outro para poder fazer juz à razão de sua
existência, que nada mais é do que uma interminável busca por algo que não pode
ter e por isto nunca achará.
A escola que
foi criada para emancipar o ser humano foi utilizada como uma ferramenta pela
burguesia para oprimi-lo, da mesma forma, a desordem gerada pelo mal
funcionamento da escola deve ser utilizada como ferramenta para reconstrui-la e
fazer com que ela atenda seu proposito inicial. Cabe aos professores lutar para
a transformação da escola, não através de um trabalho desvalorizado ajudando a
manter um sistema falido, mas sim através de uma paralização que una a
população e discuta o fracasso evidente e as possibilidades de reestruturação.
JONATAN
TOSTES